segunda-feira, 28 de abril de 2008

A mídia sensacionalista

A palavra 'ruminar' vem do latim ruminare e significa remastigar, remoer. Por esta razão, animais como os bois são chamados de ruminantes, pois remastigam constantemente seu alimento.

Trazendo para o contexto humano, e mais especificamente para o meio midiático, esta palavra tem perfeita aplicação aos veículos de comunicação sensacionalista, sejam eles telejornais, jornais, internet ou o que for.

Não quero citar nomes, até porque não há necessidade, mas a demagogia e a má-fé com que eles exploram a dor e o sofrimento alheio é tamanha que extrapola até o senso do ridículo. Você sabe que determinado programa de TV ou jornal é trash, mas chega a um nível de sensacionalismo tão repetitivo e exaustivo que torna-se maçante, repugnante. Não tem estômago que aguente, todos os dias, você ler no jornal ou assistir na TV, o mesmo fato e seus desdobramentos, que na linguagem jornalística, ganha o nome de suítes.

Tudo bem. Dá-se um desconto porque é obrigação de todos os veículos de comunicação levarem ao público informação com o máximo de imparcialidade, credibilidade, desprovido de juízos de valores imediatos (ou não), mas é tanta histeria, tanto alarido em torno de alguns casos, que eu me recuso, às vezes, a assistir determinados programas de TV, ler jornais ou navegar em alguns sítios da rede.

Às vezes, eu me questiono o porquê dos veículos de comunicação explorarem tanto o caso do filho que roubou para comprar um remédio de que a mãe precisava. Muitos deles alegam estarem prestando um serviço, mas não seria melhor mobilizar ajuda e pagar a fiança desse cidadão que agiu em momento de desespero? Não legitimo condutas como essa, mas alguns passam por situações desesperadoras na vida, e a última coisa que se imagine é ver a dor de uma mãe doente e triste com a prisão de seu filho exposta na mídia como se fosse peça de museu. Todos sabem porque ele fez isso, mas o vício midiático chega a ser nauseante, repulsivo, abominável... Tem que ser muito sádico e cínico para assistir de camarote uma tragédia como essa.

Nos últimos dias, tenho observado a cobertura do caso da menina que foi jogada da janela do edifício onde seu pai mora. Até o presente momento, supõe-se que o pai tenha sido o autor do crime, mas as investigações que foram feitas não chegaram a uma conclusão oficial. Diante disso, jornais, e principalmente os programas de TV, exploram minuciosamente o caso e, na ânsia de dar um furo de reportagem (uma ambição comum a muitos jornalistas, novatos ou experientes, e até estimulada pelos meios de comunicação), se antecipam aos fatos, dando margem a interpretações dúbias, infringindo seriamente o código de ética da profissão.

O jornalista tem por dever informar, e não julgar fatos e pessoas. Ele é o emissor da mensagem, e não o perito, a autoridade policial, o delegado, investigador ou o juiz responsável pelo caso.

O jornalismo sensacionalista merece, na verdade, outra denominação: jornalixo. Com raríssimas exceções, esse tipo de mídia só serve para dar lucro aos veículos de comunicação. E só. Não fornece informação imparcial, não dá ao leitor ou telespectador o direito de julgar as informações isento de preconceitos ou juízo de valor e pior do que isso, rumina cem, mil, dez mil vezes a mesma coisa, durante vários dias ou até semanas, sobretudo, o sofrimento da mãe que perdeu o filho para o tráfico de drogas, da mulher que adotou e torturou várias meninas, da brasileira que explorava o comércio sexual nos EUA e por aí vai.

E ainda tem o caso das revistas e dos programas de TV que se dedicam às celebridades do cinema e da TV. Esses são capazes de estampar na capa de suas edições, com todo o estardalhaço a que têm direito: 'Paris Hilton compra calcinha vermelha' ou anunciar um teaser na TV com a seguinte mensagem: 'Mistério! Imperdível! Carla Perez fica trinta minutos no banheiro'.

Como tem público para isso, infelizmente essas mídias têm sua fatia de mercado e sua capacidade de perverter informações e explorar a miséria alheia assegurada. Infelizmente.

Ainda bem que, mesmo em meio aos interesses escusos, existem profissionais dignos de confiança e veículos que pautam pela imparcialidade e por um jornalismo isento de preconceitos e juízos de valores equivocados.


Um comentário:

Alice Oliveira disse...

Muito bom seu texto! Parabéns.